O primeiro post com conteúdo deste blog ia ser uma das teorias mais populares no tumblr sobre o futuro de Phos, contudo, senti que seria um arranque repentino demais. Assim, vou copiar para aqui a resenha que publiquei já há uns tempos no meu blog original, estando todos os spoilers do mangá assinalados. Intitulei essa resenha "Porquê que Houseki no kuni me venceu", e basicamente tento convencer toda a gente a pelo menos dar oportunidade ao anime.
Trata o conceito de género de uma maneira que me agrada imenso, e o ambiente torna-se gradualmente mais maduro e denso psicologicamente, sendo protagonizado por Phos. É um anime de 12 episódios realizado pelo estúdio orange que adpata o mangá de mesmo nome, fazendo uso de arte CG de uma maneira que impressionou toda a gente pela positiva. Aqui recomendações de outras pessoas: [www www www]
Parte técnica:
» CG: Eu não percebo muito de CG, mas sei que normalmente animes que usam essa tecnologia como forma de poupar tempo e dinheiro não ficam famosos por boas razões. Mas HnK uso isso de forma tão brilhante que toda a gente reconhece que foi uma boa escolha, tendo evitado o erro da maioria dos CG e abusando da tecnologia para criar efeitos impossíveis através de arte 2D, como:
- Um uso brilhante da câmara, que intensifica a maioria das cenas
- Contornar o problema dos cabelos excessivamente brilhantes das personagens
- As bocas e as expressões faciais foram bem animadas, algo incomum em CG, onde tendem a parecer muito artificiais
» Design das personagens: Embora menos fiel ao mangá que o design da ONA, é simplesmente belíssimo e capta igualmente bem as personagens. Os traços alongados, a cintura vincada, o formato dos olhos, os penteados todos diferentes, os fatos... tudo isso está igualzinho, mas com um traço melhorado e mais adequado à sensação de 3D. E como não podia deixar de ser numa obra japonesa, apesar de as personagens não terem géneros, gems têm um design bem feminino e kawaii de raparigas pálidas, apenas sem peito.
» Pacing: O ritmo tem sido, na opinião de muita gente (e eu concordo) muito bem conseguido. Todos os eps acabam com um cliff-hanger, são introduzidos e resolvidos mistérios, desenvolvem alguma personagem para além de Phos, e ainda conseguem ser totalmente fiéis ao mangá. Pela prévia, parece que o último ep vai ser o único que conterá pelo menos algumas cenas filler, o que eu lamento, mas ainda assim, pelo menos desde o ep 3 não tenho visto ninguém a fazer reclamações.
» Trilha sonora: A maioria das músicas é calma ou tem pelo menos sons pouco barulhentos, inclusivamente nas cenas de ação, e o ritmo da música também é adequado. Em algumas ost, são usados instrumentos e soms que acrescentam um ar místico às cenas. A opening tem um ar inocente que descreve bem o espírito do começo do anime, mas não é animada demais, enchendo-se de notas pesarosas que dão a entender que o plot não será um mar de rosas.
Personagens:
Há toneladas de personagens, e pensei em resumir os traços delas rapidamente, mas daria muito trabalho e ficaria sem saber quais escolher. Então vou mostrar as imagens introdutórias do mangá, onde podem ler as descrições de quem quiserem. Saliento Phos (Phosphophyllite) como principal, Cinnabar como interesse amoroso ;) , Antarcticite como gem que dá conta dos deveres do inverno, Diammond e Bortz como diamantes e consequentemene personagens mais fortes, Yellow diammond como personagem mais velha, Jade como assistene do sensei e Rutile como médique.
A resenha propriamente dita:
Todas as personagens da categoria gems são feitas de pedras preciosas do nosso mundo, e é incrível como as propriedades que se verificam no nosso mundo também se verificam nas personagens, moldando os seus atributos físicos. Por exemplo, Phos é uma personagem fraquita porque a dureza do seu mineral é apenas de 3.5, enquanto que as personagens da categoria diamante são as mais resistentes em batalha.
A lenda que dá base à história e que só aos poucos vai sendo do conhecimento das personagens é esta: Antigamente, existiam humanos, mas por alguma razão, a existência humana foi dividida em 3 categorias: Osso, carne e alma. Gems representam o osso, umas criaturas que não posso mencionar são a carne, e a alma é representada por Lunarians, habitantes da lua. Uma das coisas mais bem feitas é como, apesar de Phosdescobrir sobre essa lenda, no meio de tanta confusão elu perde as memórias da mesma, deixando os espetadores formar as suas próprias teorias enquanto a personagem tem de redescobrir tudo por si própria, de novas maneiras - e é incrível reparar nos paralelos. Quanto ao sensei... não vou dar spoilers e não quero que concluam nada acerca dele por causa disto - don't overreact - mas ele claramente nao é apenas uma gem que assumiu o dever de cuidar e ser mentor das outras gems. Enfim, muitos mistérios ^^
O ponto principal da trama aponta para o conflito que existe entre Gems e Lunarians, que invadem a terra para destruir e capturar gems. Isto dito, não se pode considerar que haja uma guerra entre os dois povos - afinal, as motivações dos lunarians são desconhecidas (o mangá contém mais revelações e eu estou a achá-las incríveis, mas surtos mais lá à frente porque aqui seria spoiler). Gems apenas lutam como uma forma de autodefesa, até porque mesmo que não sejam capturades, ainda se podem desfazer em pedaços. Mesmo com o corpo desfeito, gems são imortais e podem voltar a ser reconstituídes, desde que se voltem a colocar as partes perdidas ou que estas sejam substituídas por um mineral semelhante - porém, o que não volta são as memórias que estavam guardadas nas partes perdidas. Frequentemente, pedaços perdidos em batalha são levados para a lua, e pensa-se que 1) os lunarians as usam como jóias decorativas e 2) algumas das partes levadas regressam à terra sob a forma de armas dos lunarian, embora nunca em quantidades suficientes para restaurar gems. De novo, não posso dar spoilers ^^
Aqui em Portugal há um grande hábito a que às vezes até eu cedo de tratar as personagens no feminino, mas no mangá em inglês são referidas por pronomes masculinos. A verdade é que as personagens oficialmente não têm género (nem sexo), apesar do que o design delas possa levar a pensar. E eu ADORO isso!... Eu detesto a noção de que a nossa sociedade seria melhor se o conceito de género desaparecesse - pois temo que isso seria usado para deduzir um género por omissão, e no fundo as pessoas continuariam a pensar em termos de género, até porque a maioria dos idiomas não está preparado para um mundo sem esse conceito (além disso, acho que seria triste se viesse a desaparecer algo que motivou tantas causas e emoções). Contudo, não tenho problemas quando essa noção é utilizada num mundo onde nunca existiu ou toda a gente desconhece o conceito de género, pois não fico com a sensação de que se perdeu alguma coisa importante. Mais: como esse conceito nunca existiu, não há qualquer menção a ele, e portanto tornou-se a primeira obra que eu consegui ver sem pensar em género.
Foi uma experiência única e tão calmante para mim... nos últimos anos, parece que tudo o que vejo assume coisas sobre o género das personagens ou que carrega o conceito de género como se fosse um fardo: mesmo obras que tentam ser revolucionárias, inovadoras ou empoderadoras por apresentar personagens forte de X género ou apresentar um mundo onde as dinâmicas de género são diferentes, são aborrecidas para mim pois costumam parecer forçadas. E mesmo entre as poucas que são bem sucedidas e que eu reconheço que fizeram um bom trabalho, ver as polémicas que geram por quem assistiu deixa-me esgotada e a pensar em mil e uma respostas que gostaria de atirar contra tanta ignorância. Com Houseki no Kuni, não se pode dizer sequer que a personagem x foi contra as expectativas que se tinha do seu género porque... não têm género. Isso, aliado ao facto de não haver romance mas de toda a gente conseguir shipar as personagens mesmo sabendo que não têm género, tem-me deixado extremamente feliz e, para além disso, repousada. É a primeira coisa que eu vejo em anos que não me enche a cabeça de ruído. A primeira de todas foi No.6, a segunda foi Korra, mas de maneiras diferentes - embora extremamente significativas na altura em que as vi. Tenho tido a sorte de ver surgir no exato momento em que estou a passar por "crises de identidade" obras que refletem aquilo que me está a preocupar numa luz positiva e que me transmite segurança, e fico extremamente grata por isso. É algo tão significativo para mim, a um nível pessoal, que é precisamente o que faz com que eu seja tão devotada ao tema da representatividade.
As cenas de ação são bastante bem coordenadas. Têm um toque muito... anime, fantasioso e tal. Mas pelo menos neste caso não acho ridículo, porque não estamos a falar de ser humanos com habilidades impossíveis, então os golpes algo fantasiosos parecem caraterísticos da espécie. Essa noção de que gems têm um estilo de luta próprio é reforçada quando se contrasta os movimentos ágeis, saltos enormes e golpes potentes com os ataques dos lunarians, que utilizam arco e flecha e armadilhas, aumentando o fosso entre as duas critaturas. Outra coisa boa é que, tanto quanto o anime mostra, os lunarian não falam, e portanto gems não perdem tempo a tentar fazê-los mudar de lado ou a desafiar os inimigos com diálogos que ocupam mais do que um ep (
Surtando com o mangá e afins [spoilers on]:Em primeio lugar, a quantidade de puns que dá para fazer com o anime é enorme: Já ouvi pessoas dizer que este anime "is the gem of the season" ou que "this is the anime that literally left me in pieces" >.<
Amei os capítulos mais recentes do mangá. O facto de Phos ter perdido a cabeça e a substituído pela de Lapiz Lazuli, perdido anos a dormir (onde algumas gems desapareceram e Cairngorn assumiu o antigo cargo de Antarc), adquirido parte da personalidade de Lapiz e recuperado em parte da sua depressão - mesmo que não se saiba até que ponto recuperou verdadeiramente e até que ponto é fingimento por parte de Lapiz - deixou-me logo motivada a ler o mangá compulsivamente. O cabelo curto combinado com as roupas entregues pelos lunarian, aquela espada e o olho sintético dão-lhe um visual fantástico. E a primeira vez que Phos se deixa levar pelos Lunarian é um dos meus arcos favoritos: Adorei como Aechmea (
Também acho interessante a maneira como foi construído o paralelo entre Antarc e Cairngorn. Em grande parte devido à importância do arco, eu quase shipo mais Phos com Antarcticite do que com Cinnabar, e como o rapto de Antarc foi a fonte do trauma - e da evolução repentina - de Phos, é daqueles ships trágicos que ficam no coração de uma pessoa. Até mesmo o facto de Phos ter cortado o cabelo de modo a parecer-se mais com Antarc tem significado. Contudo, a aparição de Cairngorn - gem interna de Ghost, que também foi raptade após ter feito parceria com Phos - tornou essa relação ainda mais relevante: Cairngorn considera Phos semelhante a Lapiz Lazuli (principalmente quando colocou a cabeça de Lapiz), que tinha feito parceria consigo e com Ghost, e Phos, numa altura em que ainda estava em choque pela perda de Ghost, até andava a chamar Cairngorn de Antarc. As semelhanças são gritantes: O cabelo curto, a personalidade severa e seca usada para esconder um coração bondoso (afinal, Cairngorn é a única gem a quem Phos conta os seus planos em relação aos Lunarian), e até mesmo em termos de papel, Cairngorn acaba por assumir os deveres do inverno. As únicas grandes diferenças são que Antarc derretia na primavera e tinha a pele banca, enquanto que Cairngorn a tem preta, tendo-a pintado depois de branco - se bem que, se eu percebi, todas as gems vinham com a pele colorida e o sensei é que as deixava com aquela aparência de bonecas de caco.
Pronto, era isso. Já que terminei falando em ships... que tal deixar-vos com este [top 10 de ships de 2017]? ;)
Aqui alguns dos posts que tenciono fazer brevemente:
- O conceito de género em Houseki no kuni
- Teoria sobre a essência de Phos: os 7 tesouros
- Previsões sobre a segunda temporada